Friday, February 8, 2008

"Timings" are a girl's best friend

Curiosamente, o Director Nacional da PJ não disse o que disse e eu não ouvi o que ouvi.
Afinal, tudo não passou de uma questão de "timings". Por acaso, até tenho uma simpatia fraternal por desculpas esfarrapadas mas, como tudo na vida, também elas estão sujeitas às rígidas leis dos..."timings".
Ao menos a Justiça já deu à Costa! Ah bolas, foi o Costa que deu na Justiça...às vezes precipito-me...

Friday, January 11, 2008

The Importance of Being Earnest

"The world is a stage, but the play is badly cast." - Oscar Wilde

Cá em Portugal, esta frase atinge proporções drásticas. Ninguém faz aquilo para que foi designado pela Providência. Por exemplo, eu em vez de estar num iate a gozar o Sol das Caraíbas (foi essa a missão divina de alto risco que me foi confiada), estou por aqui a escrever num dia chuvoso.

Se toda a gente perdesse, eu aguentava com resignação filosófica. Não me importo de trocar uma vida dedicada ao ócio num país exótico por uma vida exótica num país dedicado ao ócio. Mas não posso deixar de ficar indignado ao ver que alguns dos meus compatriotas saem a ganhar com a troca de papéis!

Há Presidentes de Câmara, pelo menos para isso foram mandatados, que se dedicam a comentar casos de polícia em programas televisivos. Do mesmo modo, há polícias que só prendem ladrões nas novelas e séries que escrevem.
Até a Botânica deste país se vê afectada pela salganhada! Não é por acaso que já as moitas querem ser flores.

Eles recebem aplausos pela assertividade das declarações e a mim chamam-me mandrião. Eles são respeitados pela sociedade, eu sou considerado improdutivo.
Será muito exigir que também eu seja famoso e admirado por não fazer aquilo que me pediram?

Não sei não Deus, mas é bom que me compenses um dia e olha que eu sou um agiota no que toca a juros. You owe me.

Friday, January 4, 2008

Two wrongs don't make a right

Se não pode ser como quero, que seja como queres: simples. Não podes é ouvir uma palavra do que digo, aparece à porta e leva-me. O consentimento é vão, cuidadoso, racional e inútil. Expectativas, medos e monstros afins, todos já lá estivemos, apetece-me sair cá fora, pela primeira vez.
Não é por ser hoje, e certamente não é pelo frio e pela chuva. Que seja! Em mil razões, que essa seja uma. Continuo com a língua presa, à espera que me agarres pelo braço. Tem que ser já.
Então, hoje ou amanhã?

Being Camus

Sentiu uma dor lancinante na alma. A sensação era recorrente, mas havia algo nela que hoje a tornava especialmente insuportável. Pouco depois, surgiram-lhe uns nódulos no peito.

Toda a gente sabe que as mágoas da alma têm reflexos no corpo, se é que se pode separar o espírito da matéria.

Ligou mas do outro lado estavam demasiado ocupados para atender, o que é compreensível tendo em conta a azáfama e as exigências dos tempos que correm. Procurou ajuda e não encontrou ninguém. Decidiu confiar em si para resolver o estranho caso, como tantas outras vezes na vida (“para que havemos de importunar alguém com os nossos problemas? “- pensava).

Foi ao Hospital certa de que, num local onde o sofrimento é serenado na medida do possível, encontrariam o remédio para o seu caso peculiar. Deitaram-na numa maca e pediram-lhe que aguardasse. Entende-se, pois por muito penosa que fosse a sua situação, haveria alguém num estado pior.

Esperou, esperou, e enquanto durava ia pensando. A dor tornara-se ainda mais pungente. Repentinamente percebeu que durante toda a sua vida nada mais apreciara do que aquele momento de espera, repetido ao longo dos anos. Tanto absurdo provocou a única saída possível, o último suspiro.

Quando se lembraram dela já era tarde.

O médico, homem de ciência e razão, quando fez a autopsia (obrigatória, pois o caso era realmente esquisito) concluiu que os nódulos no peito, em rigor no coração, só tinham uma justificação...............................................solidão.

Monday, November 19, 2007

Can't Buy Me Love

O amor é algo que não se pode comprar, ou se tem ou não se tem dependendo do quão execrável se é. Pelo menos, foi assim que mo venderam.

É claro que só os ricos é que se podem dar ao luxo do "amor e uma cabana". É privilégio deles. Para os demais, há que tomar em conta a praticabilidade, as considerações práticas do amor. Estas são apenas duas ou três questões a que temos de responder. Mais do que isso e passamos a ser racionais o que, convenhamos, só atrapalha.

Por isso é que fico espantado por ver que até já há gestores de marketing que se comprometem a melhorar os relacionamentos através de técnicas de...marketing, propondo para isso ideias para a "venda do seu produto", como revitalizar o mesmo, fazer uma análise de fraquezas e forças (o que em muitos se revela como fraqueza- o que eu sinto depois de força- sentir o teu gancho direito), tornando assim toda uma relação muito mais cheia de "glamour", de acordo com os ner...gestores.
"Contentamento descontente"? Análise SWOT ao coração (?!). Até a linguagem se parece com a do Admirável Mundo Novo.

Devem ser reflexos da sociedade de consumo, na qual tudo tem preço, custo e é optimizável. Nada contra, enquanto a cabeça for usada para fazer contas e conversas sociais, está tudo muito certo. O caldo está entornado quando é preciso sentir. Ela não pode, não consegue. É o princípio da especialidade que, azar dos azares, está em crise.

Já eu basto-me com a praticabilidade das perguntas que o burro coloca no final do filme (You love this woman don't ya? Do you wanna hold her? Please her?). Houvesse mais burros destes e o o mundo era um lugar melhor.

No fundo é simples e por isso é que é tão complicado.

Thursday, November 15, 2007

"Estamos num país que vive numa ditadura"

Eis como a opinião de um ilustre desconhecido pode despoletar uma incursão sobre o estado da Nação.

De um ponto de vista meramente enciclopedista, a afirmação é de refutar. Nestas coisas é sempre bom consultar o dicionário como meio de fundamentar juízos. Um clique na Wikipédia, et voilá: “regime político autoritário em que os poderes legislativo, executivo e judiciário estão nas mãos de uma única pessoa ou grupo de pessoas, que exerce o poder de maneira absoluta sobre o povo”. Reafirma-se a discordância.

Concluo, provisoriamente, que não é por aqui que o gato vai às filhoses, por mais largas que sejam as mãos do Sr Primeiro Ministro. O estado das coisas já não é este: formalmente há 33 anos, materialmente há bem menos!

De todo o modo, e encerrando as palavras mais do que o seu sentido literal, pensei de seguida que podíamos estar perante uma ditadura em sentido metafórico. A conclusão foi forçosamente a mesma, quanto muito podíamos tentar a personificação, mas não a metáfora.

Existem democracias mais ou menos (im)perfeitas, mas sugiro que não as tratemos como ditaduras, mais ou menos avançadas. Para todos os efeitos, o 25 de Abril foi o “point of no return”: a partir daí é legítimo expor todos os podres da democracia, trazer à colação todas as suas virtudes e assumir as suas imperfeições. Mas não é nem construtivo, nem democrático, despromovê-la, espetar-lhe uma faca e anunciar que morreu. É obviamente falso e demagógico, dito com o vazio intuito de fazer crer na ressurreição dos restos mortais do Estado Novo.

Aderindo à moda das classificações, podemos atribuir um mísero 10 à nossa democracia, mas não é, de todo, pedagógico usar a bitola ditatorial.

Que dizer então quando uma auto-denominada democracia é um lobo com pele de cordeiro? Obviamente que a receita para um país democrático não se basta com uma Constituição e meia dúzia de leis, e é também certo que no mapa-mundo abundam líderes com rasgos de despotismo, variando entre atitudes ostensivas e dissimuladas.

Aceitando estes condicionalismos, deverá vingar o optimismo de que qualquer democracia, por mais incipiente, frágil e recente, tem nas mais experientes algum auxílio. Estas, não sendo paradigmas nem autoridades morais, têm sempre qualquer coisa a ensinar, com as conquistas, mas sobretudo com os inúmeros tropeções.

Devemos deixar-nos de regressos ao passado, sob pena de parecem saudosismo.

In dubio, pro democracia.