Saturday, July 21, 2007

Força de Viver

“A vida vale mais que a comida e o corpo mais do que a roupa….reparem nos lírios, que não fiam nem tecem.
Contudo, digo-vos que nem o rei Salomão, que era riquíssimo, se vestiu como qualquer deles.
Ora, se Deus veste assim as plantas que hoje estão no campo e amanha são queimadas, quanto mais vos há-de vestir a vocês, gente sem fé.” 1
Todos os dias me interrogo se eu ainda acredito, se tenho fé e todos os dias a resposta é sempre a mesma, não, não tenho! Perdi toda a fé que tinha pelos homens e perdi também toda a fé que depositava em Deus, esse ser incrível que fica lá do alto a observar os humanos como se de um jogo de xadrez se tratasse, como posso eu acreditar em algo assim? Todas as noites me deito e chamo por ele, tento falar-lhe e ele não me responde, durante muito tempo pensei que o silêncio seria a melhor resposta ás minhas perguntas, achei também que talvez ele estivesse chateado comigo e não me quisesse falar, tipo miúdo a bater o pé e a fazer beicinho, mas se Ele é Deus não ia perder tempo com um reles descrente como eu.
Que vás para o inferno deveria pensar Ele, que não acreditas em mim! Mas eu acredito senhor, simplesmente não te compreendo, é difícil compreender algo tão extraordinário, tão complexo, quer dizer o senhor é Deus!
O intelecto do homem está sempre a querer desvendar as coisas. Ele quer a resposta para todos os “ E se….?”. Deus, no entanto, não responde a esse tipo de perguntas. Diz, simplesmente: “ Confia em mim.” Isto significa que Deus guarda sempre o que tem de melhor para os que deixam que seja Ele a fazer a escolha. “põe a tua vida nas mãos do Senhor, confia nele e ele te ajudará.”2
Depois de prolongada reflexão cheguei à conclusão que não basta praticar o bem ou simplesmente não fazer o mal, temos que acreditar, porque só assim podemos satisfazer o temor da morte, sim, quer dizer viver meia dúzia de anos e depois não haver mais nada é capaz de ser chato!

Platão, o célebre filósofo grego, disse certa vez que há três fontes válidas de conhecimento.

1. Os cinco sentidos – tacto, paladar, olfacto, audição e visão – que o homem compartilha com o reino animal.

2. A razão – que distingue o homem dos animais inferiores.

3. À terceira fonte Platão deu o nome de “Divina Loucura” – referindo-se assim ao mundo espiritual da comunicação sobrenatural.

Mais tarde Aristóteles, discípulo de Platão, eliminou a terceira fonte – aquela faculdade inteiramente intuitiva pela qual o homem recebe ou obtém a percepção divina. Aristóteles afirmou que o conhecimento se obtém apenas pela utilização dos cinco sentidos e da razão.

O mundo ocidental foi profundamente influenciado pelos sentimentos de Aristóteles. Em culturas orientais e em culturas primitivas, no entanto, a referência ao mundo dos espíritos – o mundo dos sonhos, visões e comunicação sobrenatural – é comum em todos os níveis sociais.

A pergunta que eu faço é, será que por nós ocidentais supostamente desenvolvidos, cultos e eruditos nos deixamos vencer pela razão colocando a paixão e emoção como coisas não essenciais? Mais será que nós do alto da nossa sapiência achamos que tudo o que não é cientificamente explicável, o vai ser um dia e que não existe mais nada para além do que os nossos sentidos percepcionam?
E mais importante ainda arrogamo-nos de cultos e chama-mos bárbaros aos orientais e aos povos primitivos, só porque eles acreditam?
Como é óbvio eu próprio não tenho a resposta para estas perguntas, mas se nos é permitida a imodéstia de colocar a nossa opinião junto da de Platão e de Aristóteles, pensadores intemporais, pensamos que toda a vida tem uma razão de ser, se Deus existe? Cabe a cada um de nós descobrir, se existem pessoas que falam com ele, por favor mandem o número de telemóvel do Senhor, ou mesmo o mail.
Quero muito falar com o Senhor, penso que seria uma conversa muito interessante, ele explicar-me o truque da multiplicação dos peixes, ou aquele outro de andar sobre a água, entre tantos outros.
Seria sobretudo muito interessante o que Ele teria a dizer sobre o conflito no Darfur, ou sobre os conflitos sempre actuais entre Israel e a Palestina, sobre o que raio aconteceu na segunda guerra mundial, qual foi o papel do Hitler? Ah e já agora porque ao mesmo tempo que pessoas passam fome o líder católico vive num pequeno reino cheio de vestes imponentes, coberto de ouro, diz-se até que o João Paulo II tinha umas botas Dr. Martinez em branco, que inveja….
A verdade é que eu sou um herege, só digo coisas erradas, mas se querem acreditar em algo, acreditem em vocês próprios, na força que todos temos dentro de nós, uma força vital que todos os dias se revela num abraço, um beijo, um carinho, numa mãe a amamentar um filho, um pai a levar um filho ao futebol, (quem me dera), numa simples palavra, acreditem no Amor.


1- (Lucas 12:23, 27,28.)
2-
(salmo 37:5).
Libertas.

Wednesday, July 18, 2007

Vencer pelo ócio

Após um longo período de ausência está de volta à má-língua!
Devido a razoes de foro profissional, ou talvez por falta de profissionalismo que levou a prorrogar o tempo de exames ficamos algum tempo sem falar mal, mas estamos de volta, cheios de vontade de criticar o mundo.
É com espanto que verificamos o caro K que quer mudar o mundo com uma espécie de novas conferências do casino para mudar a sociedade portuguesa, oh K, mas isso dá trabalho! Será que este é o mesmo K que escreve que é um “burro cansado”….”Que o esforço só leva ao cansaço”, tens que te decidir ou a tua pró-actividade é evidenciada pelo ócio?
Ouvi algures que “é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma”, em verdade vos digo, se é necessário que tudo mude para que tudo fique na mesma, para que mudar? Podíamos simplesmente poupar-nos deste trabalho todo, vamos entediar os dirigentes até à exaustão que eles mais tarde ou mais cedo desistem de nos tentar enganar, porque simplesmente a gente não quer saber!

(até os rage against the magine quando lançaram o último single intitulado no one can't stop us now, separaram-se e não voltaram a actuar!)


Libertas.

Saturday, July 14, 2007

Serve the Servants

- K. como sempre que te encontro, estás sem fazer absolutamente nada, a gozar plenamente o ócio...
- Que posso eu dizer? Estou a reflectir, sou um diletante compulsivo.
- Ah, o senhor está em avançada reflexão então!?
- Exacto, e para ser franco, estou à espera que a Vida me revele algo sem eu ter de procurar.
- E porque não procurar ser útil?
- Porque de acordo com a minha mais profunda crença, são sempre os que se esforçam por emagrecer que engordam...
- Da mesma forma, os que querem ser úteis...
- ...acabam por ser chatos e verdadeiros empecilhos.
- Oh, assim os que lutam por ser felizes...serão sempre infelizes?
- Nem mais...a Vida é, na sua essência, uma grande farsa porque, ao contrário do que nos venderam, o esforço só leva ao cansaço. Por outro lado, todas as coisas que receamos têm um sentido de timing espantoso. Evidências? Hás-de reparar que quanto mais desespero pões, mais grãos de areia escapam entre os dedos. Os Deuses lançam a cenoura e os homens, invariavelmente, tentam apanhá-la em vão, sem saber que, ao mesmo tempo, os Deuses soltam os cães. Quanto a mim sou um burro cansado.
- Isso é um absurdo!
- Talvez...mas cada um é livre de viver a sua Verdade. Cá na minha ideia, quanto maior é o esforço...fim mais longe, Fim mais perto. O Homem deseja o que não pode e é obrigado a viver com o que não quer. Penso que se não me agarrar a nada, nada se agarra nem é atirado contra mim. Tenho uma sensação de controlo, o Mundo é bem melhor visto de cima.
- Eu às vezes pergunto-me se terás tanto prazer em dizer tamanhas idiotices. Gostas mesmo do que és?
- Temo ser demasiado parcial nesse assunto para ter uma posição convenientemente objectiva.
- És um tolo!
- Ser mais papista que o Papa há-de ser a tua queda...
- E o cinismo a tua...
- Cínico? Eu? Jamais me tinha visto dessa forma...um cínico, como disse o poeta que amava o que não podia, é um Homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada e eu, apesar de saber o preço de tudo, também sei o valor de alguma coisa e o de coisa alguma. Quanto muito serei um sentimental perverso.
- Tu cansas-me...
- É a Tragédia das relações humanas, acabamos todos a bocejar mortalmente...
Ainda vamos ser grandes amigos.
- Deus me livre!
- Olha...agora tenho a certeza!

Friday, July 13, 2007

Quando eu te vejo

Os meus pequenos primos estavam indignados por a Luciana Abreu estar na TV com umas calças de ganga ("A Flor não usa calças!!!")...Curiosamente eu também...
Pff...e ainda teimam no Generation Gap...

Wednesday, July 11, 2007

The melting watch

Esperou-te a tarde inteira. Tinha um vestido branco, um bocadinho transparente, dava-lhe aquele ar “naïve e pós-moderno”, como ela própria o descrevia.
-Desculpe, tem horas? – perguntou-lhe um sem-ponteiros
Só aí caiu em si, mesmo a tempo de evitar as nuvens arroxeadas e o desagasalho do fim de tarde. Levantou-se, reparei que tinha o vestido sujo de relva, mas que lhe importava?
Esperou-te a tarde inteira, virava as páginas absortas do livro, juntava as letras, não lia. A certa altura deixou-me inquieta, confesso que achei arrogante perder tanto tempo com pensamentos sobre si própria, sem querer saber o que se passava naquele livro.
Contou-me que lhe pareceu ter-te visto há umas semanas, coisa que lhe acontece de tempos a tempos. Chegou a abordá-lo, descreveu-me pormenorizadamente a casa, o quarto, a maneira como compunha o cabelo com as mãos, repetidamente, compulsivamente, de forma tão desprezível que concluiu não ser possível seres tu.
A noite passada perguntou por ti num lugar onde param velhos com cheiro forte a colónia e mulheres impregnadas de talco, entre fotos e musica desbotada, mesas pesadas, enraizadas no chão pegadiço. Comentou que a vossa juventude faria um contraste interessante naquele lugar, e eu concordei.
Fiquei com a impressão que amanhã te vai procurar, quando a vi a percorrer o armário com os olhos. Não lhe disse que te tinha encontrado há umas semanas, que me sentei muito perto de ti e que trocámos meia dúzia de vulgaridades. Também não lhe contei que nesse dia subi as escadas do prédio, descalça, a correr, numa estranha descarga de adrenalina.
Pedi-lhe o vestido branco emprestado, mesmo que o dia não aqueça o suficiente vou usá-lo amanhã, para o caso de quereres trocar meia dúzia de vulgaridades, naqueles minutos de pretexto, entre duas estações.

Monday, July 9, 2007

Man in the Box

Falta alguém que clame por justiça. Esse alguém, como é óbvio, não sou eu. A mim agrada-me que a Vida seja injusta, não fosse assim e eu estava tramado.
Mas se há pessoa que merece justiça é o Luís Militão. Ele é a prova viva (por enquanto) de como Portugal continua a desperdiçar o talento, dando azo à afamada fuga dos cérebros para outras paragens, diminuindo o potencial a este canto. Tamanha miopia estratégica é desoladora, ainda para mais quando o que não falta ao Militão é visão (e desoladora também...para os rivais).
Não se deixem enganar, o Militão não está preso. Ele tem é um espaço de manobra reduzido mas isso faz parte do truque. Nada nem ninguém prendeu o Houdini.
O problema destes génios é o facto de em Portugal preferirmos sempre o estrangeiro, mesmo que de qualidade duvidosa, é estrangeiro e basta. Porque, muito sinceramente, o Scofield ao pé do Militão é um amador, tem é marketing.
Por estas e por outras é que o "real deal" vê-se obrigado a emigrar à procura da terra das oportunidades. Se o Militão tivesse nascido americano, não teria sido um "wasted talent" e as guerras recentes teriam sido resolvidas em dois/três dias, os árabes já adoravam o Papa e o Bin Laden e os seus comparsas já estavam a tomar o gosto à alta voltagem de Guantánamo.
Vamos acabar com o complexo de que só os países civilizados é que têm "criminal masterminds". Nós também os temos e melhores, os coitados têm é de emigrar.
Viver está mesmo mais difícil, até para os que tornam viver...difícil.

Tuesday, July 3, 2007

Amoris Causa

Ele, um soldado daqueles que nunca são heróis, pois não era forte como Hércules, corajoso como Aquiles ou belo como Adónis e tão-pouco tinha o carisma de um Alexandre. Era apenas um soldado de pouco valor, que os Deuses abandonam e dos quais não reza a História.
Certo dia, o soldado sem pena nem glória viu, com os seus olhos vagos, aquela que os trovadores vangloriam e pela qual os valorosos se perdem. O soldado, outrora triste e indiferente, possuía agora luz no peito.
Ela, uma Princesa em toda a sua graça venusiana, de olhos claros e penetrantes, belos cabelos loiros, face desenhada por um Miguel Ângelo e sorriso esfíngico e fatal como o de quem esconde um mistério dos muito misteriosos. Era toda a Antiguidade Clássica com a originalidade dos tempos modernos. Tinha tanto de intrigantemente fascinante como de fascinantemente intrigante.
O fraco soldado sentiu-se preso à sensível Princesa como um marinheiro está preso ao mar, o narciso à água e o corpo à alma.
Mergulhado na sua ilusão e depois de muito pensar, o pequeno soldado fez-se grande e, chegando-se perto da Princesa, disse-lhe "Perdoe-me a ousadia, senhora minha, mas eu, por quem os Deuses não nutrem simpatia, ao vê-la tomei consciência do vazio que tinha e do nada que me sentia...Acaso aceita o meu amor?"
A Princesa, graciosa em todos os seus gestos, rindo muito disse "Decerto que é um bravo soldado e o que diz será verdade mas, como prova da sua dedicação, peço-lhe que me espere cem dias diante do Palácio, só após essa proeza poderei aceitar de bom grado o seu amor."
O formoso soldado acedeu a tal pedido. Passou um, dois, três, cinquenta dias, em que fez chuva e sol e calor e frio e o destemido soldado não se movia. Teve sede, fome, foi alvo de chacota, todos riam do admirável soldado. Mas ele, certo do seu amor, permaneceu imóvel e imperturbável durante noventa e nove dias.
Na última noite, o soldado esquecido pelos Deuses virou-se de costas para o Palácio...e foi-se embora...