Friday, January 4, 2008

Being Camus

Sentiu uma dor lancinante na alma. A sensação era recorrente, mas havia algo nela que hoje a tornava especialmente insuportável. Pouco depois, surgiram-lhe uns nódulos no peito.

Toda a gente sabe que as mágoas da alma têm reflexos no corpo, se é que se pode separar o espírito da matéria.

Ligou mas do outro lado estavam demasiado ocupados para atender, o que é compreensível tendo em conta a azáfama e as exigências dos tempos que correm. Procurou ajuda e não encontrou ninguém. Decidiu confiar em si para resolver o estranho caso, como tantas outras vezes na vida (“para que havemos de importunar alguém com os nossos problemas? “- pensava).

Foi ao Hospital certa de que, num local onde o sofrimento é serenado na medida do possível, encontrariam o remédio para o seu caso peculiar. Deitaram-na numa maca e pediram-lhe que aguardasse. Entende-se, pois por muito penosa que fosse a sua situação, haveria alguém num estado pior.

Esperou, esperou, e enquanto durava ia pensando. A dor tornara-se ainda mais pungente. Repentinamente percebeu que durante toda a sua vida nada mais apreciara do que aquele momento de espera, repetido ao longo dos anos. Tanto absurdo provocou a única saída possível, o último suspiro.

Quando se lembraram dela já era tarde.

O médico, homem de ciência e razão, quando fez a autopsia (obrigatória, pois o caso era realmente esquisito) concluiu que os nódulos no peito, em rigor no coração, só tinham uma justificação...............................................solidão.

1 comment:

Inês said...

sad, true and yet beautiful.