Esperou-te a tarde inteira. Tinha um vestido branco, um bocadinho transparente, dava-lhe aquele ar “naïve e pós-moderno”, como ela própria o descrevia.
-Desculpe, tem horas? – perguntou-lhe um sem-ponteiros
Só aí caiu em si, mesmo a tempo de evitar as nuvens arroxeadas e o desagasalho do fim de tarde. Levantou-se, reparei que tinha o vestido sujo de relva, mas que lhe importava?
Esperou-te a tarde inteira, virava as páginas absortas do livro, juntava as letras, não lia. A certa altura deixou-me inquieta, confesso que achei arrogante perder tanto tempo com pensamentos sobre si própria, sem querer saber o que se passava naquele livro.
Contou-me que lhe pareceu ter-te visto há umas semanas, coisa que lhe acontece de tempos a tempos. Chegou a abordá-lo, descreveu-me pormenorizadamente a casa, o quarto, a maneira como compunha o cabelo com as mãos, repetidamente, compulsivamente, de forma tão desprezível que concluiu não ser possível seres tu.
A noite passada perguntou por ti num lugar onde param velhos com cheiro forte a colónia e mulheres impregnadas de talco, entre fotos e musica desbotada, mesas pesadas, enraizadas no chão pegadiço. Comentou que a vossa juventude faria um contraste interessante naquele lugar, e eu concordei.
Fiquei com a impressão que amanhã te vai procurar, quando a vi a percorrer o armário com os olhos. Não lhe disse que te tinha encontrado há umas semanas, que me sentei muito perto de ti e que trocámos meia dúzia de vulgaridades. Também não lhe contei que nesse dia subi as escadas do prédio, descalça, a correr, numa estranha descarga de adrenalina.
Pedi-lhe o vestido branco emprestado, mesmo que o dia não aqueça o suficiente vou usá-lo amanhã, para o caso de quereres trocar meia dúzia de vulgaridades, naqueles minutos de pretexto, entre duas estações.
3 comments:
a saudade...lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir!
Maggie, Maggie: que saudades! Espero que as orais lhe corram de feição.
Cumprimentos.
Maggie...fossem as tuas atitudes para com o próximo tao sensíveis como as tuas palavras e tao belas como o teu rosto, acredita, serias um dos seres mais admiráveis que alguma vez conheci... Longe de ser "uma amiga", sou decerto uma admiradora...afinal, admiração não é sinónimo de amizade...e nem de inimizade...admiração é o que é e apesar de..enfim...ver o mundo de forma diferente de ti, nao posso deixar de tecer elogios porque tal como todos nós...tens virtudes..notáveis...
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