Saturday, July 14, 2007

Serve the Servants

- K. como sempre que te encontro, estás sem fazer absolutamente nada, a gozar plenamente o ócio...
- Que posso eu dizer? Estou a reflectir, sou um diletante compulsivo.
- Ah, o senhor está em avançada reflexão então!?
- Exacto, e para ser franco, estou à espera que a Vida me revele algo sem eu ter de procurar.
- E porque não procurar ser útil?
- Porque de acordo com a minha mais profunda crença, são sempre os que se esforçam por emagrecer que engordam...
- Da mesma forma, os que querem ser úteis...
- ...acabam por ser chatos e verdadeiros empecilhos.
- Oh, assim os que lutam por ser felizes...serão sempre infelizes?
- Nem mais...a Vida é, na sua essência, uma grande farsa porque, ao contrário do que nos venderam, o esforço só leva ao cansaço. Por outro lado, todas as coisas que receamos têm um sentido de timing espantoso. Evidências? Hás-de reparar que quanto mais desespero pões, mais grãos de areia escapam entre os dedos. Os Deuses lançam a cenoura e os homens, invariavelmente, tentam apanhá-la em vão, sem saber que, ao mesmo tempo, os Deuses soltam os cães. Quanto a mim sou um burro cansado.
- Isso é um absurdo!
- Talvez...mas cada um é livre de viver a sua Verdade. Cá na minha ideia, quanto maior é o esforço...fim mais longe, Fim mais perto. O Homem deseja o que não pode e é obrigado a viver com o que não quer. Penso que se não me agarrar a nada, nada se agarra nem é atirado contra mim. Tenho uma sensação de controlo, o Mundo é bem melhor visto de cima.
- Eu às vezes pergunto-me se terás tanto prazer em dizer tamanhas idiotices. Gostas mesmo do que és?
- Temo ser demasiado parcial nesse assunto para ter uma posição convenientemente objectiva.
- És um tolo!
- Ser mais papista que o Papa há-de ser a tua queda...
- E o cinismo a tua...
- Cínico? Eu? Jamais me tinha visto dessa forma...um cínico, como disse o poeta que amava o que não podia, é um Homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada e eu, apesar de saber o preço de tudo, também sei o valor de alguma coisa e o de coisa alguma. Quanto muito serei um sentimental perverso.
- Tu cansas-me...
- É a Tragédia das relações humanas, acabamos todos a bocejar mortalmente...
Ainda vamos ser grandes amigos.
- Deus me livre!
- Olha...agora tenho a certeza!

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